quarta-feira, 11 de maio de 2016

Resenha de Filme: Emma Watson brilha em "Colonia", filme que mistura romance, drama e suspense de forma inteligente.


Impossível começar a falar de Colonia sem exaltar o talento de Emma Watson. A já não "eterna" Hermione da saga Harry Potter nos cinemas vem apresentando trabalhos significativos, com excelentes interpretações, e no longa de Florian Gallenberger, diretor que também assina o roteiro, ela entrega um atuação com alma, digna de aplausos. Em meio ao golpe de Estado que derrubou o presidente Salvador Allende e culminou com a ascensão do ditador Augusto Pinochet no Chile, em 1973, o casal alemão Lena (Watson) e Daniel (Daniel Bruhl) enfrenta a onda turbulenta das manifestações. Quando o rapaz é levado pela polícia secreta de Pinochet, Lena descobre que ele está em um lugar chamado Colonia Dignidad, uma missão de caridade dirigida pelo pregador Paul Schafer (Michael Nygvist). Ao se juntar a esse culto religioso para salvar Daniel, Lena descobre segredos terríveis e vê a chance de escapar cada vez mais remota. Interessante apontar que a Colonia Dignidad realmente existiu durante quatro décadas, onde apenas 5 pessoas conseguiram escapar. Gallenberger consegue fazer uma pesquisa história impressionante, reconstruindo o local através de fotos com bastante fidelidade. Romance, drama e suspense se misturam de forma coesa, fazendo de "Colonia" um filme tenso, nervoso, que prende a atenção do início ao fim, principalmente no fim, que mesmo fugindo da realidade histórica, oferece cenas eletrizantes. O filme pode causar certo incômodo com as cenas fortes com o pregador Paul Schafer, envolvendo principalmente atos de tortura, sendo inegável que Michael Nygvist entrega um personagem repugnante, marcante e repulsivo. Embora o filme não entregue algumas respostas sobre a vida dos personagens principais, "Colonia" é filme que vale a pena ser assistido, principalmente pelas interpretações excelentes.

Escrito por André Ciribeli.

terça-feira, 5 de abril de 2016

Resenha de Disco: Em "Tropix", Céu mistura MPB com pop eletrônico e reafirma sua versatilidade.


Uma mistura de MPB com pop eletrônico permeia "Tropix", quarto álbum de inéditas da cantora Céu. Sucessor do excelente "Caravana Sereia Bloom", esse lançamento pouco se parece com os discos anteriores, mantendo a inovação e renovação como marca registrada da artista. Céu assina, sozinha ou em parceria, 10 das 12 faixas e é responsável pela coprodução do trabalho, que abusa de teclados e sintetizadores, como na irresistível "Perfume do Invisível", escolhida para primeiro single e que abre o disco. A produção ficou a cargo do baterista Pupillo (Nação Zumbi) e do tecladista francês Hervé Salters. A cantora Tulipa Ruiz participa de forma tímida em "Etílica/Interlúdio", música imersa em ambiente psicodélico. Há um clima lúdico no álbum, principalmente em Varanda Suspensa, onde Céu descreve a vista da casa de seu avô em São Sebastião, no litoral paulista. Já "A Menina e o Monstro" foi inspirada em sua filha Rosa Morena, de 7 anos, tendo como base "Onde Vivem os Monstros", livro de Maurice Sendak que foi adaptado ao cinema por Spike Jonze. "A Nave Vai", composta por Jorge Du Peixe, é talvez a canção mais acessível do disco, onde em seus versos expõe que "de manhã sou um, de noite já fui dois". Certamente tem muito de Céu, que assume várias caras em cada um de seus discos, com obras diversificadas e que jamais pode ser acusada de "cair na mesmice". Causando certo furor musical com seu disco de estreia "Céu" em 2005, passeando pelo reggae dois anos depois em "Vagarosa" e misturando brega e indie-rock em 2012 em "Caravana Sereia Bloom", somente uma cantora competente poderia se reinventar tanto. E, dessa vez, "Tropix" vem para reafirmar a importância de Céu no atual cenário musical brasileiro.

Escrito por André Ciribeli.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Resenha de Filme: Aparentemente Simples, Brooklyn é Belo Filme Que Ressalta o Talento de Saoirse Ronan.


Que alegria é assistir a um filme e se apaixonar por cada minuto dele. Com três indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Atriz, mais que um belo espetáculo cinematográfico, Brooklyn marca o amadurecimento de Saoirse Ronan, que já tinha brilhado em 2007 em Desejo e Reparação. Situado na década de 50, Brooklyn narra a história de Eilis Lacey, que sai da Irlanda rumo à Nova York em busca de novas oportunidades, ajudada pelo também irlandês padre Flood (Jim Broadbent). A cidade recebia imigrantes de várias nacionalidades e são esses que a ajudaram a se tornar o que é hoje. A Europa vivia o pós-guerra, onde principalmente os mais jovens não viam grandes perspectivas. Eilis chega ao país já com um emprego, moradia em uma pensão e passa a cursar Contabilidade em aulas noturnas. Tudo parece promissor, mas saudade de casa faz com que seus dias sejam tristes. Deixando para trás a mãe e a irmã e com uma cultura irlandesa bem arraigada, Eilis passa os dias tristes e cabisbaixa, até que conhece Tony (Emory Cohen), rapaz de descendência italiana que lhe oferece companhia, carinho e amor. Só então os dias da protagonista se tornam ensolarados. Tudo vai bem até que uma tragédia faz com que Eilis tenha que retornar à Irlanda e então, essa segunda parte o filme é marcada por conflitos internos, dúvidas e questionamentos cujas respostas são difíceis de se conseguir. O filme, que poderia ser mais um drama facilmente esquecido, possui uma beleza e uma singularidade que me faz lembrar de algumas cenas constantemente. Com direção de Jonh Crowley e roteiro assinado por Nick Hornby, Brooklyn encontra sua força na interpretação de Saoirse Ronan, que confere à sua personagem simplicidade e força ao mesmo tempo. Eilis mostra uma evolução clara, uma mulher de múltiplas características, com uma personalidade rica e muito bem trabalhada. Aparentemente simples, mas que se torna grandioso quando analisamos suas minúcias e abrimos o coração pra sua beleza, Brooklyn é filme que merece ser visto e aplaudido.

Escrito por André Ciribeli.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Resenha de Disco: No Excelente "Matéria Estelar", a Talentosa Rhaissa Bittar Dá Vida e Voz a Objetos Inanimados.


Alguns poucos anos atrás eu tive a oportunidade de conhecer, ouvir e escrever sobre "Voilá" disco de Rhaissa Bittar que sinalizava uma carreira promissora para a versátil cantora. Recentemente tive o prazer de ouvir "Matéria Estelar", segundo disco de Rhaissa que confirma todo seu talento e criatividade. O álbum é uma coleção de canções grandiosas que ganham forma na sua voz delicada e na sua interpretação teatral. O repertório é composto por apólogos, narrativas que personificam seres inanimados. Assim, somos presenteados com histórias inusitadas, cômicas ou melancólicas. Uma lista telefônica desempregada, uma pera que se apaixona por um caju, um leque que anseia pela aposentadoria, uma guarda-chuva que sonha em ser famoso, uma foto esquecida, palitos que não conseguem conviver dentro de uma caixa de fósforos e a adaga de Lady Macbeth são algumas histórias cantadas por Rhaissa. Tudo é um show de criatividade e autenticidade em "Matéria Estelar", que conta com a composição e produção de Daniel Galli. Há também uma variada mistura de ritmos, como samba, frevo, jazz e tango. É difícil destacar as melhores músicas, já que o disco é coeso, contando com uma impecável produção, mas posso citar "O Leque", "Artifício", "Palitoterapia" e a belíssima "Pérola do Brinco da Moça", na qual faz referência à obra do pintor holandês Johannes Vermeer. "Matéria Estelar" é disco sublime, que merece ser ouvido várias vezes, proporcionando ao ouvinte fortes doses de criatividade e talento.

Escrito por André Ciribeli.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Resenha de Disco: Janelle Monáe Tem Trabalho Regido Por Soul e Competência.


Quando lançou "The ArchAndroid", Janelle Monáe foi alçada a um patamar altíssimo, com um disco conceitual, onde mesclava novos ritmos ao antigo soul da Motown com uma bela pitada de psicodelia. Anos depois, mais precisamente em 2013, o aguardado sucessor chegou fazendo estardalhaço. "The Eletric Lady" não decepcionou. O disco abraça o soul mais forte, mais intensamente, onde músicas calmas e agitadas dividem espaço com interlúdios que simulam uma rádio, introduzindo o grande espetáculo que estamos prestes a ouvir. O álbum ainda cria metáforas presentes em um mundo hipotético, dominado por androides. Mesmo mantendo a cara, voz e assinatura de Janelle, há inúmeras participações especiais. Prince está presente em "Givin’ Em What They Love", Esperanza Spalding em "Dorothy Dandridge Eyes". Monáe divide os vocais com Erykah Badu em "Q.U.E.E.N.", um hino à liberdade e força feminina. Solange canta na faixa "Eletric Lady" e Miguel arrebata na balada "PrimeTime", que para mim é um dos destaques do disco, junto com "It's Code" e "We Were Rock n' Roll". Porém, as grandiosas participações não ofuscam a cantora, ao contrário, apenas acrescentam beleza a uma obra que já beira a perfeição. Tudo é cuidadosamente arquitetado e jamais soa artifical, com produção super competente. O talento de Janelle não passa despercebido, assim como seu repertório inspirado.

Escrito por André Ciribeli.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Resenha de Disco: Em "Oito", Marjorie Estiano Apresenta um Trabalho Multifacetado e Maduro.


Foi com muita curiosidade que ouvi "Oito", terceiro álbum de Marjorie Estiano. E foi com alegria que constatei que a atriz e cantora lançou um álbum maduro e consistente, que nem de longe lembra sua época em Malhação, da Rede Globo. O disco chega sete anos desde o seu último lançamento, "Flores, Amores e Blábláblá", apresentando 11 faixas, sendo 8 autorais. O trabalho flerta com diversos ritmos, como blues, jazz, MPB, reggae e forró, mostrando grande versatilidade, mas impedindo que possamos desfrutar mais de um som específico. Marjorie se entrega ao amor desesperado em faixas como "Por Inteiro", primeiro single do disco, "E Agora" e "Me Leva". Também aposta em um romantismo fofo em "Ele" e "Alegria Maior Não Tem", um forrozinho que nos convida a dançar. Canta em espanhol em "Donde Estás" e em inglês em "Driving Seat" e divide os vocais com Gilberto Gil em "Luz do Sol" e com Mart'nália em "A Não Ser o Perdão", além de apostar em uma versão do sucesso de Carmen Miranda, "Ta-Hi", de Joubert de Carvalho . Tanta diversidade não chega a comprometer a personalidade do álbum, mostrando uma Marjorie multifacetada, talentosa e que domina vários estilos. "Oito" consequiu colocar Marjorie dentro do universo da música adulta e apresentou uma compositora bem acima da média e uma cantora com inegável talento.

Escrito por André Ciribeli.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Resenha de Filme: "Mommy" é Mais Um Acerto de Xavier Dolan.

 

Considero Xavier Dolan um prodígio. Mesmo com sua pouca idade, seus filmes são muito acima da média. "Eu Matei Minha Mãe", "Amores Imaginários", "Laurence Anyways" e "Tom à la Ferme" figuram na minha lista de obras inesquecíveis, já que seu trabalho pode ser tudo, menos efêmero. Seu último trabalho, "Mommy", não foge à regra. O filme é pautado em seus personagens, com personalidades fortes e muito bem trabalhadas. Em um Canadá ficcional, a lei permite que pais internem facilmente seus filhos em instituições públicas, caso esses causem problemas. Steve (Antoine-Olivier Pilon), jovem hiperativo, é expulso de uma dessas instituições por provocar um incêndio, e assim, fica aos cuidados de sua mãe, Diane "Die" Després (Anne Dorval), tão desnorteada quanto o filho. A relação conturbada dos dois é marcada por altos e baixos. Ao mesmo tempo em que sentem carinho um pelo outro, o humor inconstante de Steve causa grandes problemas, tornando-o até violento. Um certo equilíbrio é encontrado com a ajuda da vizinha Kyla (Suzanne Clément), que dedica um tempo enorme de seus dias para ajudar os dois e claramente possui problemas emocionais, aparentes em sua dificuldade em articular as palavras. Dolan foi responsável pela direção, roteiro, produção, edição e figurino de "Mommy", e consegue realizar seu trabalho mais maduro e consistente. O filme foi merecidamente ganhador do Prêmio do Júri em Cannes e conta, além de uma enorme criatividade visual e uma trilha sonora certeira, com excelentes interpretações que desabrocham no momento certo. Impactante, mas belíssimo, "Mommy" merece todos os elogios possíveis.

Escrito por André Ciribeli.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Resenha de Filme: Mesmo Depois de Décadas, "As Vinhas da Ira" Ainda Permanece Atual.


Alguns filmes lançados décadas atrás podem, nos dias de hoje, soar bastante atuais. Esse é o caso de As Vinhas da Ira (The Grapes of Wrath, 1940). Dirigido por Jonh Ford e baseado no livro homônimo de John Steinbeck, narra a história de uma família de pequenos agricultores, arrendatários expulsos de suas terras em Oklahoma durante a depressão, que atravessam o país rumo à Califórnia, em busca de melhores condições de vida. Além de uma viagem difícil, acabam descobrindo que o tão sonhado trabalho era mais utópico do que real. Mais detalhadamente, o filme começa com Tom Joad (o grande Henry Fonda), que após quatro ano preso por homicídio, retorna à casa dos pais e descobre que eles, além de perderem a terra, estão prestes a se mudarem para a Califórnia. Assim, toda a família parte em um caminhãozinho velho levando o pouco que possuem. Pessoas honestas em busca de melhores condições de vida é uma realidade que atravessa décadas e décadas. São trabalhadores que buscam o seu sustento e acabam oferecendo sua força de trabalho a troco de pouco ou quase nada. Muitos enriquecem durante os períodos de crise, e é evidenciado durante todo o filme a exploração da mão de obra barata. Realizado em sete semanas, o filme possui um roteiro impecavelmente adaptado e os acontecimentos são vividos com grande intensidade, mérito de um elenco que reúne, além de Henry Fonda, Jane Darwell, Jonh Carradine e Charley Grapewin. As frases finais de Tom Joad se tornaram antológicas. Concorrendo ao Oscar em 1941, venceu nas categorias de Melhor Diretor (John Ford) e Melhor Atriz Coadjuvante (Jane Darwell) e concorreu a Melhor Ator (Henry Fonda), Melhor Montagem, Melhor Filme, Melhor Som e Melhor Roteiro. Com um belo e perfeito retrato dos Estados Unidos na primeira metade do século passado, As Vinhas da Ira é um clássico, uma obra que merece ser vista númeras vezes. É um exemplo de que um filme não envelhece, ao contrário, alguns conseguem se manter sempre atuais. 

Escrito por André Ciribeli.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Resenha de Disco: Pitanga em Pé de Amora Cresce em Belíssimo Trabalho.


Pitanga em Pé de Amora é, ao meu ver, uma das melhores bandas que incorpora a chamada Nova MPB. Seu último trabalho, lançado recentemente, "Pontes Para Si", produzido por Swami Jr., mostra um considerável crescimento musical, ou seja, o que era bom ficou ainda melhor. O coletivo formado por Angelo Ursini (saxofone, clarinete e flauta), Daniel Altman (violão 7 cordas), Diego Casas (violão), Flora Poppovic (percussão) e Gabriel Setubal (trompete e guitarra) apresenta um trabalho mais consistente, poético e mistura xote, samba, baião, jazz e até marchinhas, com coros e cordas sendo muito bem explorados. Os arranjos das músicas são extremamente delicados e faz com que a banda crie uma identidade própria dentro do cenário musical. Se no primeiro disco, que leva o nome da banda, predominava as canções de amor, leves e ingênuas, "Pontes Para Si" abraça tons mais urbanos e letras mais incorpadas, como em "Insônia", belíssima música presente no disco, que conta ao todo com 14 faixas. A grande Mônica Salmaso divide os vocais com Flora Poppovic na excelente "Ceará". Os integrantes se dividem em duetos, coros e interpretações individuais em músicas que são verdadeiros presentes aos ouvidos, como "O Pescador", "Alma de Poeta" e "Razão de Ser". Lançado de forma independente, "Pontes Para Si" conta com dowload gratuito no site da banda (clique aqui). O disco é fantástico e merece uma audição atenta. Pitanga em Pé de Amora cresce e tem seu talento mais que comprovado nesse belíssimo  trabalho.

Escrito por André Ciribeli.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Resenha de Filme: Relatos Selvagens Apresenta Humor e Raiva Em Episódios Impecáveis.


O Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2015 foi pra Polônia, com "Ida", mas eu apostava em "Leviatã", da Rússia. Outro que não levou a estatueta foi o excelente "Relatos Selvagens", da Argentina, país que está cada vez mais apresentando filmes de alta qualidade. O filme, dirigido por Damián Szifron, apresenta 6 histórias diferentes que mesclam drama, vingança, violência e comédia. Porém, o humor é refinado e inteligente, ao contrário (infelizmente) das comédias brasileiras de humor rasteiro que, atualmente, ainda conseguem levar um público significativo ao cinema. O primeiro episódio é o mais curto de todos e se passa dentro de um avião. Não dá para falar muito, pois corre-se o risco de estragar o final. O próximo se passa dentro de uma lanchonete de beira de estrada, onde uma garçonete tem a chance de se vingar do homem que acabou com sua família e, para isso, conta com a "pequena" ajuda da cozinheira do estabelecimento. Temos ainda um episódio que mostra um desentendimento em uma estrada chegar a consequências inesperadas, sendo talvez, o mais violento, e um onde o pai rico tenta livrar o filho de ser preso após o mesmo atropelar uma mulher grávida. O astro Ricardo Darín protagoniza a história de um cidadão comum que tem seu carro rebocado, o que lhe causa vários transtornos e o  leva a um grande ato de violência. Relatos Selvagens tem como mérito apresentar várias histórias igualmente interessantes, o que é incomum em filmes desse tipo, que geralmente apresenta alguns momentos mais fracos. O filme se mantém coeso durante todo o tempo e deixa por último um episódio que se passa em um casamento, onde uma noiva enfurecida (belíssima atuação de Erica Rivas) resolve se vingar do esposo infiel, sendo o mais marcante de todos. A personagem de Erica Rivas poderia facilmente sair de um dos filmes de Pedro Almodóvar que, aliás, é creditado como um dos produtores do filme, que conta ainda com a atuação de Dario Grandinetti, Diego Gentille e Oscar Martínez. O filme pode não ter levado o Oscar, mas teve reconhecida a sua grandiosidade.

Escrito por André Ciribeli.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Resenha de Filme: Leviatã, de Andrey Zvyagintsev, Tem a Corrupção Como Um Monstro a Ser Enfrentado.


Foram grandes as expectativas em cima de "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho", longa do diretor Daniel Ribeiro, para o Oscar 2015 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Infelizmente, não foi dessa vez. Embora o filme contasse com excelentes interpretações e um roteiro consistente, ficou de fora da lista dos selecionados. Volto ao Esfinge Cultural para falar um pouco sobre um dos indicados, "Leviatã", representante da Rússia, dirigido por Andrey Zvyagintsev, ganhador do prêmio de melhor roteiro do Festival de Cannes de 2014 e o grande favorito para a categoria do Oscar. O roteiro, aliás, foi assinado pelo próprio Zvyagintsev. O filme conta a história da briga na justiça (e fora dela), de Kolya (Serebryakov) com o prefeito corrupto Vadim (Madyanov), que deseja suas terras e, para isso, chega a fazer uso de meios nada pacíficos. Para preservar suas terras, Kolya conta com a ajuda do advogado e seu velho amigo Dmitri (Vladimir Vdovitchenkov). O filme consegue abordar uma série de assuntos polêmicos, como corrupção, adultério, decadência familiar e injustiças sociais, tendo a Rússia de Vladimir Putin como cenário para narrar essa sátira política. No longa, o poder é maior que a justiça, apresentando um clima constante de tristeza, mentiras que são transformadas em verdades e decisões jurídicas que são lidas rapidamente, mostrando o quão viciadas estão. Se no início a resignação não faz parte dos adversários do prefeito Vadim, ao longo do filme acabam se entregando ao desespero frente ao "monstro" que enfrentam. Conta ainda com personagens interessantes, que são muito bem construídos e ajudam a dar equilíbrio à história. Ao mostrar um esqueleto de baleia que se encontra na propriedade de Kolya, Zvyagintsev mostra que os monstros antigos já se foram, e o Leviatã a ser enfrentado agora já é outro. Com isso, uma passagem citada durante o filme, é bem pertinente: "Você consegue pescar com anzol o Leviatã ou prender sua língua com uma corda?" Esperar vencê-lo é ilusão, apenas vê-lo já é assustador. Vale lembrar que Leviatã já ganhou o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Globo de Ouro e é aposta (quase) certeira para o Oscar, na mesma categoria.

Escrito por André Ciribeli.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Lorde e sua música madura e desafiadora.

É difícil acreditar, ao ouvir Royals, que Lorde é a grande revelação de 2013 e que sua música de trabalho tenha feito tanto sucesso no mundo pop. Não é o caso de falta de merecimento, longe disso, mas é estranho que, nesse momento da Pop Music internacional, de discos produzidos de forma cada vez mais intricada, uma canção tão simples e ao mesmo tempo desafiadora conseguiu chegar aos topo das paradas. Tudo nela está fora do que esperamos de um clássico pop atual se tomarmos Lady Gaga como referência.
E fica mais impressionante quando descobrimos que Ella Yelich-O’Connor é uma neozelandesa de apenas 17 anos.
Seu primeiro disco, Pure Heroine, flerta com música eletrônica, hip-hop e faz um pop com pegada melancólica de deixar Lana Del Rey no chinelo.  Aliás, para quem gosta de comparações, o som de Lorde soa, em alguns momentos, como o de Lana, embora soe mais natural e menos planejado do que de sua predecessora.
Mas o que intriga mesmo é o que foi que o público de Lady Gaga, Katy Perry e outras viu em Lorde, já que sua música segue por um caminho oposto ao delas.
Outro mérito de Lorde é sua voz, profundamente madura para uma garota de sua idade. Mas, se você ouviu Royals, sabe que falar disso é chover no molhado.
Há um termo em Minas Gerais que encaixa-se perfeitamente na tentativa de definir Lorde: sustança. Há sustança em sua música, sua voz, sua letra.  Sobriedade e segurança que só são possível em garotas e garotos que são mais velhos que sua própria idade.
Não ficarei surpreso se nos próximos anos Lorde ser responsável por aquilo que de melhor o POP irá nos oferecer.


Ouça também: Ribs e Buzzcut Season. 

terça-feira, 25 de junho de 2013

Resenha de Livro: Arte da Ressurreição oferece leitura deliciosa e descompromissada

Isabel Allende, Gabriel Garcia Márquez, Roberto Bolaño. A literatura latino-americana de língua espanhola é muito rica e tem, em geral, um universo comum onde situações fantásticas se misturam a acontecimentos cotidianos.
Engrossando esse caldo está Hernán Rivera Letelier que, conterrâneo de Allende e Bolaño, é considerado um dos melhores autores chilenos em atividade.  Seu romance A Arte da Ressurreição levou para casa o prestigiado Prêmio Alfaguara, da Espanha, publicado pela divisão do prêmio no Brasil pela Editora Objetiva em 2012.
Na história, o autor (re)imagina a vida de um homem real – o andarilho Domingo Zárate Vega – que durante as primeiras décadas do Século XX percorreu o Chile afirmando ser o enviado de Deus, o sucessor de Jesus Cristo, recebendo a alcunha de Cristo de Elqui, referindo-se ao vilarejo onde nasceu. A narrativa começa quando o Cristo de Elqui parte rumo a um pequeno vilarejo no meio do maior deserto do mundo, o Atacama, a fim de encontrar Magalena Mercado, prostituta considerada santa e que, para ele, Cristo de Elqui, poderia ser sua Maria Madalena.
Ao retratar o período através de uma história real, Letelier nos mostra um panorama da vida no deserto mais árido do mundo. Embora não seja um tratado sobre o Chile, sua população e seus costumes, o livro consegue divertir na maneira como a história se conta, principalmente pelo humor não intencional do Messias atacamenho.
Ao terminar a rápida leitura de A Arte da Ressurreição – rápida pois o livro é pequeno – ficamos marcados com a deliciosa sensação de que acabamos de relembrar a história de algum conhecido, que viveu muito próximo de nós: quem não conhece alguém que consideramos um tanto louco, mas que no fundo gostamos? Terminamos o livro guardando um carinho enorme pelo Cristo de Elqui, pouco importante se era louco ou, realmente, o Messias. E isso graças ao humor despretensioso e a maneira delicada como Letelier constrói seu personagem.

Não tem o peso de Cem Anos de Solidão e nem gostaria de ser. A Arte da Ressurreição é um livro despretensioso e essa é sua grande virtude.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Divulgada a lista de selecionados para Cannes

A curadoria  de Cannes divulgou hoje os selecionados para a edição do festivel desse ano. Confira abaixo:



Filmes da mostra competitiva
"Only God Forgives", de Nicolas Winding Refn
"Borgman", de Alex Van Warmerdan
"Behind the Candelabra", de Steven Soderbergh
"La Grande Bellezza", de Paolo Sorrentino
"Jeune et Jolie", de François Ozon
"Nebraska", de Alexander Payne
"La Venus a la Fourrure", de Roman Polanski
"Soshite Chichi ni Naru", de Kore-Eda Hirokazu
"La Vie D'Adele", de Abdellatif Kechiche
"Wara No Tate", de Takashi Miike
"Le Passe", de Asghar Farhadi
"The Immigrant", de James Gray
"Grisgris", de Mahamat-Saleh Haroun
"Tian Zhu Ding", de Jia Zhangke
"Inside Llewyn Davis", de Ethan Coen, Joel Coen
"Michael Kohlhaas", de Arnaud Despallieres
"Jimmy P.", de Arnaud Desplechin
"Heli", de Amat Escalante
"Un Chateau en Italie", de Valeria Bruni-Tedeschi
Seleção Un Certain Regard
"Omar", de Hany Abu-Assad
"Death March", de Adolfo Alix Jr.
"Fruitvale Station", de Ryan Coogler
"Les Salauds", de Claire Denis
"Norte, Hangganan NG Kasaysayan", de Lav Diaz
"As I Lay Dying", de James Franco
"Miele", de Valeria Golino
"L'inconnu du Lac", de Alain Guiraudie
"Bends", de Flora Lau
"L'Image Manquante", de Rithy Panh
"La Jaula de Oro", de Diego Quemada-Diez
"Anonymous", de Mohammad Rasoulof
"Sarah Préferè La Course", de Chloé Robichaud
"Grand Central", de Rebecca Zlotowski
Séance de minuit
"Monsoon Shootout", d Amit Kumar
"Blind Detective", de Jeohnnie To
Homenagem a Jerry Lewis
"Max Rose", de Daniel Noah
Sessão especial
"Muhammad Ali's Greatest Flight", de Stephen Frears
"Stop Top The Pounding Heart", de Roberto Minervini
"Week End of a Champion", de Roman Polanski
"Seduced and Abandoned", de James Toback
"Otdat Konci", de Taisia Igumentseva
O filme de abertura
Já tinha sido divulgado The Great Gatsby, versão do diretor Baz Luhrmann (Australia, Moulin Rouge) para o livro homônimo de F. Scott Fitzgerald. No elenco estão Leonardo DiCaprio, Carey Mulligan e Tobey Maguire. Não é a primeira vez que o clássico da literatura norte-americana é transportada para os cinemas, mas dessa vez a história será apresentada em 3D. Luhrmann é um diretor conhecido por acertar ou errar em demasia em suas produções. 
Participação Brasileira 
Esse ano o Brasil participará do festival com dois curtas-metragens no evento paralelo "Court Métrage - Short Film Corner", são eles: O Florista e Algumas Mortes.
Mestra de Cerimônia e Presidente do Júri
A atriz francesa Audrey Tautou -- a eterna Amelie Poulain -- será a mestra das cerimônias de abertura e de encerramento, onde será entregue os prêmios aos agraciados pelo júri, que esse ano será presidido por Steven Spielberg. 

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Especial Festival de Cannes

  O Festival de Cinema mais aguardado do mundo está prestes a começar! E é claro que o Esfinge Cultural não vai ficar de fora. 
  Não, leitores, não teremos um repórter na França para cobrir o festival, mas a partir de amanhã vamos começar a postar uma série de textos sobre o festival de cinema mais midiático e glamouroso do planeta. 
  Começaremos com a lista oficial dos filmes selecionados, que a curadoria do festival apresenta amanhã. Na semana seguinte, falaremos um pouco sobre a participação do Brasil no festival e, depois disso, bem, é surpresa. Até amanhã! 

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Resenha de disco: The Emancipation of Mimi, o melhor disco de Mariah Carey na década 00


Aposto uma pequena fortuna (que eu não tenho, aliás) que alguns leitores do Esfinge estão coçando suas cabeças e pensando: “Sério mesmo que ele vai falar bem de um disco de... Mariah Carey?” Ora leitores, why not?
Só existem duas explicações plausíveis para MC ser amada e odiada em igual medida desde os anos 90 e continuar no showbizz há mais de duas décadas: ou ela é uma grande marqueteira, ou algum talento ela tem, mesmo que hoje ele não seja tão vigoroso quanto fora antes. Eu prefiro acreditar na segunda opção.
Quem prestar atenção na voz de Mariah em suas primeiras gravações ouvirá algo que dificilmente se encontrará em outra cantora: vozeirão daquele, poucas tiveram. Além é claro, de um talento para levar para uma massa branca uma música genuinamente negra, lembrando que estamos no contexto norte-americano, e lá a segregação racial é bem mais latente e evidente do que em nosso país.
Infelizmente, Mariah não escapou ao passar do tempo: sua voz já não é a mesma, o gosto do público também não e a cantora teve que ceder à cartilha da mulher-objeto, de canções insinuantes, que obviamente não combinam com seu perfil físico. Lembro-me de ouvir ou ler em algum lugar alguém dizendo que ela não precisa mostrar tanto o corpo, ela tem voz, e com aquela voz, já era suficiente.
Um dos fatores que (talvez) diminuíram sua credibilidade foi sua excessiva "sexualização", mas também a perda de capacidade vocal. Nesse cenário – que inclui uma série de discos fracos e desinteressantes –, Mariah  acabou surpreendendo em 2005 com um The Emancipation of Mimi, um álbum que não fugia à regra da mulher-gostosa, mas que trazia algum frescor para esse contexto e que, pelo menos, não soava forçado.
Sua voz não está maravilhosa como já esteve, os temas podem até ser repetidos, mas The Emancipation é gostoso de ouvir, soa honesto e, digamos, menos vulgar (ou cafona). Carey se afasta levemente do hip-hop, flerta com suas origens e faz gol. Stay the Night, One and Only e Joy Ride foram feitas para ouvir no repeat. E até a “feita-pra-balada” It’s like That agrada.
Para aqueles que ainda rejeitam, odeiam e execram a cantora, ouçam então o seu MTV Unplugged, que só peca em ser tão curtinho: na gravação de 1992 sua voz está límpida e ela canta a plenos pulmões.
Deem uma chance a Mariah, se não vale respeita-la pelo que canta – e como canta – hoje, não dá pra negar o que (e como) ela já cantou.

domingo, 7 de abril de 2013

Cat Power confirma shows no Brasil

   Segundo o blog musical Tenho Mais Discos que Amigos, a cantora Chan Marshall - mais conhecida como Cat Power, está fazendo as malas para vir ao Brasil: ela se apresenta em maio no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Recife.
    A cantorna está divulgando mundialmente seu mais recente trabalho, Sun, no qual Marshall deixou de lado a sonoridade soul e investiou em um álbum mais rockeiro e com pitadas eletrônicas. 
  De acordo com o blog, os shows acontecem dia 18, no Circo Voador (RJ), dia 19, no Catamaran (Recife) e no dia 21, no Cine Joia (SP). Os ingressos para as capitais paulista e fluminense começaram dia 04. 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Resenha de filme: O Brilho de Isabelle Huppert em Copacabana


Copacabana, filme francês do diretor Marc Fitoussi lançado em 2010, embora a princípio  pareça um filme Cult menor, sobre uma mãe desajustada que tenta se encaixar no mundo depois que recebe a notícia do casamento de sua filha única, na verdade é um grande feito cinematográfico.
Voltando à sinopse, Copacabana gira em torno de Babou (Isabelle Huppert), uma mulher de meia idade que vive deslocada do mundo, como um peixe fora d’água, sem conseguir um emprego fixo e estabilidade financeira e emocional.  Devido às convenções sociais, Babou é desacreditada por todos a sua volta, que não entendem sua estilo de vida livre e descompromissado. Mas as coisas mudam quando sua única filha decide se casar – e cumprir com as exigências sociais estabelecidas – e decide não convida-la para a cerimônia. Em busca de conquistar a  credibilidade perante a filha e a família de seu noivo, Babou parte para o norte da França para trabalhar como vendedora e poder provar que, finalmente, "amadureceu".
Olhando superficialmente, Copacabana trata de temas que já há muitos anos fazem parte do universo do cinema de autor – relações familiares, conflitos gerados por padrões sociais não atingidos, inadequação, entre outros. Porém, um olhar mais atento permite enxergar como Fitoussi escapa de uma abordagem rasteira ao “apagar-se” e colocar o filme nas mãos de Huppert.
Quem assiste ao filme percebe que não há mais nada nem ninguém ali além de Isabelle Huppert: o diretor filma sua estrela, seu jogo de cena, suas nuances, tudo no tempo da atriz e de sua personagem. Trilha sonora, coadjuvantes, diálogos, tudo, absolutamente tudo é mero artifício para fazer Isabelle brilhar como Babou. E ela consegue.
E é justamente o talento de Huppert que segura o filme: sua Babou é tão rica que em momentos você a ama e em outros, a detesta. Isabelle soube como construir uma personagem cativante e incômoda de tanto que ela se parece conosco. Quem assiste Copacabana tem certeza de que Babou é real e que a conhece de algum lugar.
Enfim, é filme despretensioso que cativa, emociona, diverte e que a gente nunca mais esquece.

Em tempo: o filme chama-se Copacabana pois o grande sonho da vida de Babou é conhecer o Rio de Janeiro. Ela é apaixonada por nossa cultura. Devido a isso a grande maioria das músicas que compõem a trilha sonora do filme são brasileiras. 

terça-feira, 2 de abril de 2013

Divulgado o cartaz de Cannes 2013

Foi divulgado na semana passada o cartaz do festival de Cannes 2013. Na foto de 1963, Paul Newman beija sua esposa Joanne Woodward, durante as filmagens de Amor Daquele Jeito. Essa á uma singela homenagem do Festival para Newman, falecido em 2008. 

quarta-feira, 27 de março de 2013

Resenha de Filme: Doze Homens e Uma Sentença: Um clássico vigoroso e atual


Doze Homens e Uma Sentença, do diretor Sidney Lumet, é um daqueles filmes que podem ser considerados clássicos. Mas, afinal, o que é um clássico? Para o cinema, um clássico é aquele filme que de tão bom e vigoroso permanece atual independente da época em que tenha sido feito.
Doze Homens foi lançado em 1957 e mostra a reunião de 12 jurados que precisam decidir o futuro de um jovem que está sendo acusado de matar o próprio pai. Passado inteiramente dentro de uma sala e focando exclusivamente na deliberação dos 12 homens, a sinopse pode sugerir que trata-se de mais um filme enfadonho. Ledo engano.  
Lumet aproveita-se das limitações da história e cria um jogo de cena impressionante, que de nada valeria se não fosse seu enorme talento de diretor, cercado por grandes atores em grandes interpretações. Cabe ressaltar também o importante papel do roteiro na feitura deste filme: como não havia espaço para criar cenas e imagens, o roteirista conseguiu desenvolver diálogos que suprem essas faltas.
Aliás, Doze Homens não é apenas econômico em cenários: tudo no filme leva ao minimalismo e nada está ali gratuitamente. O que está lá, assim como o que não está; o que é dito, e também o que não é dito (caso dos nomes dos jurados) têm um propósito.
Mas o grande mérito de 12 Homens e Uma Sentença é ser mais instigante do que muitos filmes que utilizam de técnicas e tecnologias feitas justamente para... instigar!
Nesse jogo de cena tenso, Lumet cria uma história cheia de reviravoltas e surpresas e acaba falando sobre temas tão presentes em nosso cotidiano, como o preconceito. E tudo isso com 12 atores em uma sala. 

segunda-feira, 18 de março de 2013

Resenha de Disco: Tudo Esclarecido, (mais) um disco irretocável de Zélia Duncan


Zélia Duncan está naquela lista seleta de artistas constantes, sem aqueles altos e baixos na carreira tão comuns (e aceitáveis). Seus discos comungam entre si de uma qualidade inquestionável e invariável. Além disso, Zélia é uma grande compositora e intérprete.
Seu mais recente trabalho, Tudo Esclarecido, lançado já no fechar de cortinas de 2012, corrobora o parágrafo acima: é um disco coeso e mostra a capacidade de Zélia de debruçar-se sobre a obra de um autor sem soar como uma simples regravação. O álbum é todo feito com canções de Itamar Assumpção, compositor paulistano de grande importância no cenário nacional.
Itamar Assumpção é um dos grandes nomes da cena que ficou conhecida como Vanguarda Paulista na década de 70-80, vanguarda que hoje é referência para importantes nomes da Nova MPB (também paulista, em sua maioria). A vanguarda da década de 70 lutou contra as grandes gravadoras, pela dificuldade em se gravar e pela falta de liberdade criativa, levando esses músicos a abrirem suas próprias empresas e lançando seus discos de forma independente. Por causa disso, o maldito da MPB (como Assumpção era conhecido) foi taxado de difícil pela crítica e mídia. Tanto que é dele a célebre frase “Eu sou um artista popular!”, ao ser perguntado sobre o assunto.
Apesar disso, seu legado e importância nunca foram esquecidos e Itamar foi gravado por grandes nomes, como Cássia Eller, Jane Duboc, Ney Matogrosso, Zizi Possi e, claro, Zélia. Aliás, não é de hoje que Duncan tem uma relação com o catálogo de Assumpção: ela já interpretara Código de Acesso, Vi, Não Vivi, entre outras.
Talvez por essa proximidade com a obra de Itamar Tudo Esclarecido seja um disco de intérprete sem parecer de intérprete: Zélia entende todo o conjunto e se coloca à disposição dele de forma tão bela a ponto de parecer que, na verdade, as canções são de sua autoria.
Destaque para Mal Menor, Tua Boca e Quem Mandou, prova de que Itamar não é nem de longe um artista difícil e que Zélia é completa. Além disso, é ótima a parceria (tão improvável) entre Martinho da Vila e Zélia em É de Estarrecer.
 Em um país conhecido pela força de cantoras intérpretes, Zélia - a compositora -  mostra que também faz jus à essa regra nacional. 

quarta-feira, 13 de março de 2013

Resenha de Série: Acabou-se o Que Era Doce: Duas Séries Que Mereciam Estar No Ar.

Enquanto escrevia sobre as séries britânicas para o blog, lembrei-me de duas outras que tiveram uma passagem breve pela TV americana, mas que deveriam estar no ar.  Ambas foram vítimas da guilhotina cruel da TV americana: enquanto aqui readapta-se, modifica-se e remodela-se os programas de TV para agradar a audiência, as emissoras americanas tiram do ar tão logo percebe-se que não houve resposta dos telespectadores. Nesse jogo muitas coisas boas se perdem e outras piores são mantidas, mas é assim que funciona. As duas séries de hoje, Pushing Daises e United States of Tara, tiveram vida curta na TV e, apesar disso, marcaram o meio após suas passagens. Pushing Daises, criada por Brian Fuller, foi ao ar na TV americana entre outubro de 2007 e junho de 2009 e contou a história de Ned, um confeiteiro que tinha a estranha habilidade de trazer mortos de volta à vida (e também de volta à morte) com um toque, porém durante apenas um minuto. Caso não levasse a pessoa ressuscitada de volta à morte novamente, outra próxima morreria em seu lugar. Ned, então, utiliza esse artifício para fazer reviver seu grande amor, mas fica impossibilitado de toca-la para sempre, sendo esse o mote romântico do seriado.  Além dele, com seu dom, Ned passa a desvendar mistérios, assassinatos, tanto que a série foi vendida como um “conto de fadas forense”. O grande diferencial de Pushing Daises era unir o universo mórbido de Tim Burton com o lúdico de Amelie Poulain, mais parecendo um filme do que um simples seriado para a TV. Cada episódio era um encanto visual, rico em símbolos, sem esquecer-se do básico: ótimas interpretações para um ótimo texto. Com duas temporadas de vida, Pushing Daises teve grande êxito na primeira, mas seu público não continuou na segunda. Apesar disso, devido a boa recepção da crítica e dos poucos fãs que permaneceram, a série virou uma HQ e há planos para que vire um filme. United States of Tara foi ao ar pelo canal pago Showtime e mostrava a vida de uma família de classe média americana disfuncional (como normalmente toda família é), sendo regida por uma mãe amorosa e suas outras personalidades. Tara, a personagem título, lindamente interpetada por Toni Colette, sofria de Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), mais conhecido como Transtorno de Múltipla Personalidade. Criada por Diablo Cody (roteirista do ótimo Juno e do péssimo Garota Infernal), United States durou 3 temporadas e é um grande exemplo de como comédia e drama se encontram e podem funcionar juntos. Isso é resultado de um texto inteligente, que preza pelo “menos é mais” e de um grupo de atores – encabeçados por Colette – que entenderam perfeitamente o programa e deram o melhor de seus talentos para transmitirem a verdade de seus personagens. E conseguiram. United é um palco para Toni Colette mostrar, em exemplos, o que faz dela uma das melhores atrizes de sua geração (pena que Hollywood ainda não se deu conta disso). A regra é clara e o jogo é justo: a TV vive de publicidade e a publicidade precisa de audiência para poder anunciar na TV. Então, se não deu audiência, não há razão para manter um programa no ar. United States of Tara e Pushing Daises foram vítimas da regra. A nossa sorte é que os DVDs estão aí para nos mostrar que nem tudo está perdido. 

Resenha escrita por Rafael Tavares. 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Resenha de Filme: Documentário "Olhar Estrangeiro" Propõe Discussão Sobre a Identidade do Brasil.

O que é um clichê? Melhor, quem o cria: a pessoa que é o alvo dele, ou quem difunde? Tratando-se de um país, quem é o responsável, o próprio país, que oferece somente a visão clichê de si mesmo ou os outros países, que insistem em imagina-lo daquela maneira? A documentarista Lucia Murat propõe essa discussão em seu documentário de 2006, "Olhar Estrangeiro", em que coloca atores, diretores e produtores de cinema de todo o mundo para refletir sobre suas escolhas criativas ao retratar o Brasil. Os filmes aos quais "Olhar Estrangeiro" faz referência criam um Brasil do topless, de macacos como animais de estimação e muitas incongruências na representação de nossa cultura. Nesse contexto, Murat cria um jogo em que procura identificar os motivos que levaram os profissionais do cinema a construir esse Brasil clicheresco e fora da realidade enquanto intercala com depoimentos de populares, o público estrangeiro, e a visão que ele tem sobre nosso país. Nesse jogo, a diretora ora se coloca como documentarista, ora como brasileira ofendida e ao invés de encontrar respostas, propõe ainda mais perguntas. Somos nós os responsáveis por essa visão “samba, carnaval, futebol e mulher pelada” que impera no mundo? Ou a manutenção desses clichês diz mais sobre os estrangeiros do que sobre nós. Seria essa manutenção uma ignorância voluntária deles ou uma falta de vontade de mudar isso de nossa parte? E, mais importante, isso é bom ou ruim? Pode ser bom, se pensarmos que todos são vítimas dos clichês e que eles, de alguma forma, dão uma identificação singular aos países em um mundo globalizado e de fronteiras cada vez mais turvas. Por outro, é ruim, somos minimizados a meia dúzia de características que nem sempre condizem com a realidade. Além disso, a internet e a globalização crescente podem fazer com que esses clichês errados sejam desmistificados. "Olhar Estrangeiro" é portanto um bom exercício de autoanálise, para avaliarmos até que ponto contribuímos para essa visão equivocada ou se elas são pura e simplesmente fruto da ignorância estrangeira.

Resenha escrita por Rafael Tavares.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Resenha de Disco: A Suave Contemplação de "O Tempo Faz a Gente Ter Esses Encantos".

Não sei explicar bem os motivos, mas ao ouvir "O Tempo faz a Gente Ter Esses Encantos", disco de Alvinho Lancelotti que recentemente foi disponibilizado gratuitamente na internet, lembrei-me de Dorival Caymmi, de alguma forma as composições de Alvinho lembraram-me as suaves canções de Caymmi, com aquele clima de contemplação típico dos que não têm pressa. Aliás, não ter pressa é um requesito básico para poder apreciar o disco: ainda que curto, "O Tempo Faz a Gente Ter Esses Encantos" exige ouvidos atentos, dispostos a aproveitar o ócio criativo de se ouvir uma boa música, seja para relaxar, alimentar a alma ou ambos. Por esse motivo o título do disco é tão pertinente, só o tempo, nesse caso o tempo livre, distante das obrigações diárias e das regras de segunda a sexta, pode nos permitir a perfeita compreensão e absorção desse disco. Ou, nas palavras do próprio Lancelotti, só o tempo faz a gente ter esses encantos. E é nesse ponto que vejo Caymmi na obra de Lancelotti: naquele clima de fim de tarde sem fim olhando o pôr do sol ao som das ondas quebrando no mar. Como Caymmi, Alvinho Lancelotti soube parar o tempo para admirar o que muitas vezes passa por trivial: a chuva, os rituais religiosos, as festas são temas recorrentes nas músicas de Alvinho. Ouça "Sexta-feira", "Gira de Caboclo" e "São Tomé" e comprove. Com o currículo que tem (e com seu histórico familiar), era de se esperar de Alvinho Lancelotti um disco soberbo (e simples) como esse: filho de Ivor Lancelotti, compositor responsável por grandes músicas regravadas à exaustão, por nomes de peso como Clara Nunes, Roberto Carlos, Nana Caymmi, entre outros, e irmão de Domenico Lancelotti, que tem o nome na ficha técnica dos projetos mais legais feitos no Brasil hoje, como a Orquestra Imperial (e que participa em algumas faixas de "O Tempo"). Sem deixar de citar, é claro, que Alvinho Lancelotti é fundador do “Fino Coletivo”, grupo que deu um gás na música brasileira e que, ao lado de outros importantes nomes, são chamados de “Nova MPB”, devido a (já adquirida) relevância histórica de suas músicas para o cenário cultural nacional. "O Tempo faz a Gente Ter Esses Encantos" é um delicioso disco de MPB, regado a samba e tradições afro-brasileiras, perfeito para quem não se importa em perder uma tarde vendo a hora passar, ouvindo uma canção sobre o mar ou o pôr do sol. Trivialidades? Talvez, mas ainda assim encantadoras.

Resenha escrita por Rafael Tavares.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Resenha de Filme: Em "Anna Karenina", Joe Wright Mistura Cinema, Literatura e Teatro.

Foi Joe Wright o competente diretor encarregado de levar para as telonas "Anna Karenina", obra-prima de Tolstoi. A obra narra a vida amorosa conturbada de Anna Karenina (Keira Knightley), aristocrata do império russo, casada com Karenin (Jude Law), poderoso ministro com quem possui um filho. Ao visitar o irmão que cometeu adultério para tentar ajudar a salvar seu casamento, Anna conhece o Conde Vronsky (Aaron Johnson), por quem desde o início passa a sentir grande atração e logo tornam-se amantes. Completamente apaixonada, Anna abdica de seu casamento e posição social, enfrentando a aristocracia da época, extremamente conservadora, que a julgava impiedosamente. O grande triunfo do filme é o modo como a história é conduzida, apresentada como uma peça de teatro. Cenários são desmontados e construídos rapidamente por ajudantes de palco e ações do cotidiano são realizadas através de brilhantes coreografias. Por vezes, cenas e personagens são congelados para entendermos com clareza a importância dos acontecimentos, contando o filme com uma excelente equipe de montagem, direção e edição, além de surpreendente fotografia nas delicadas cenas externas. O elenco mostra grande entrosamento e a atuação de Jude Law é primorosa e Keira Knightley já é bastante conhecida por atuar em "filmes de época". O filme foi indicado ao Oscar 2013 nas categorias "Melhor Figurino", (que é um espetáculo à parte), "Melhor Fotografia", "Melhor Direção de Arte" e "Melhor Trilha Sonora Original". Misturando brilhantemente teatro, literatura e cinema, Joe Wright nos entrega uma grande obra.

Resenha escrita por André Ciribeli.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Resenha de Show: O "Menos é Mais" de Micróbio ao Vivo.

Adriana Calcanhotto, seja em aparições públicas ou em espetáculos, sempre foi contida. De sua vida privada, sabe-se pouco. Em um tempo de superexposições e megaproduções, isso é uma incongruência. Mas para a carreira de Adriana, faz todo sentido. O espetáculo "Micróbio Ao Vivo", que leva aos palcos as canções do seu excelente disco de samba, "Micróbio do Samba", é um exemplo desse menos é mais que pauta sua carreira. Não é a primeira vez que Calcanhotto apresenta um espetáculo diminuto em proporção, "Público", show transformado em disco no começo da década 00, era praticamente todo feito com voz e violão. Uma obra-prima. Em "Micróbio ao Vivo", show feito pelo selo "Multishow Ao Vivo" no Teatro Tom Jobim, no Rio de Janeiro, Adriana Calcanhotto se une a Davi Moraes, Domenico Lancellotti e Alberto Continentino para uma apresentação intimista do disco, sem grandes artifícios cênicos. É um encontro entre público, voz e música. Funciona e é suficiente. Os poucos elementos além-música que são incluídos na apresentação são apresentados de forma crua e simples. Um exemplo? Os confetes que caem sobre Adriana durante umadas músicas não vêm da coxia ou de algum equipamento no teto, uma pessoa entra com um saco e os joga sobre a cantora. E o efeito não poderia ser mais maravilhoso, a impressão é que estamos diante de uma estrutura translúcida, vendo sua composição, como aqueles telefones transparentes que foram moda décadas atrás. Outro acerto é ver como Adriana se desvencilha de seus clássicos sem sofrimento e sem fazer falta, mesmo que "Vambora" ainda toque em "Micróbio Ao Vivo", mas não como parte do repertório da apresentação. "Dos Prazeres, Das Canções", música de Péricles Cavalcanti e "Deixa, Gueixa" são destaques do show. "Te Convidei Pro Samba", na voz de Domênico Lancelotti, também é um exemplo de como o bom não precisa de muito. Nada contra grandes espetáculos e megaproduções, tenho vontade de ver a todos e, todos que vi, me agradaram. Porém, vez ou outra, é maravilhoso assistir a um show em que todos os espaços sejam preenchidos pela música e pela voz.

Resenha escrita por Rafael Tavares.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Resenha de Filme: "Indomável Sonhadora" Mostra Que o Cinema Não Perdeu Sua Magia e Ainda é Capaz de Encantar.

Antes de começar exatamente a falar sobre o filme em questão é preciso fazer uma crítica. "Indomável Sonhadora", o título dado para "Beasts of the Southern Wild" no Brasil, é péssimo. Nem de longe traduz o espírito do filme e de sua protagonista. Aliás, "Indomável Sonhadora", o título, combina mais com um drama menor que faz carreira na "Sessão da Tarde" do que com a poesia desse filme. Aliás, ele é mais do que um filme, uma história para ser vista com pipoca e refrigerante ou acompanhar no fim de noite pela TV. Se é possível um filme ser mais do que um filme, ser a essência da existência humana, seria "Beasts of the Southern Wild". É um filme-sentimento, onde importa mais as sugestões, as sensações e as reflexões do que a história que se conta, ela é só o meio, o caminho, o exemplo e o que verdadeiramente importa é o que essa história desperta em cada espectador. Para entende-lo perfeitamente, é preciso vencer o distanciamento voyeristico típico do cinema e aceitar que você precisará entrar nesse universo, ser e sentir aqueles personagens de uma forma que nenhuma tecnologia 3D conseguiria. O filme conta a história de uma menina criada por um pai moribundo numa das regiões mais agressivas dos Estados Unidos, o estado de Louisiana, onde o passado escravagista e as condições naturais criaram um sistema de pobreza extrema e catástrofes que desabriga, mata e dificulta ainda mais a vida de sua população, como o Katrina mostrou para todo o mundo. A afinidade desse elenco de nada valeria se não fosse a força de Quvenzhané Wallis, atriz de 9 anos que não só dá conta do peso de sua personagem como dá aula de interpretação, tanto que foi indicada ao Oscar 2013 como "Melhor Atriz" e o filme ainda concorre nas categorias "Melhor Filme", "Melhor Diretor" e "Melhor Roteiro Adaptado". A direção segura, que mais se preocupa em sugerir do que mostrar, é mais um acerto e tanto. E o que a gente leva de Beasts of the Southern Wild? Que esse velhinho centenário chamado cinema não perdeu sua magia e que ainda encanta, emociona e assusta do mesmo jeito que fez quando aquele trem chegou à estação em um café em Paris, que a Humanidade é bela, sim, e em suas fraquezas, medos e defeitos e que vale a pena chorar vendo um filme.

Resenha escrita por Rafael Tavares.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A Superioridade das Séries Britânicas.

A princípio, essa resenha seria sobre a nova série da BBC1, "Ripper Street", mas o catálogo de séries do Reino Unido é tão bom em qualidade que é impossível discorrer somente sobre uma delas e tive que abrir o leque para algumas produções inglesas. Os Estados Unidos é a capital das séries e exportam seus produtos para o mundo em maior quantidade; nesse quesito, o Reino Unido é, de certa forma, coadjuvante: exporta menos que os primeiros, mas o que sai de lá possui uma qualidade técnica infinitamente superior, além de muitos de seus programas servirem de base para a criação de versões americanas, como "Shameless" e "The Office", que nasceram na terra da Rainha. Talvez o seriado de maior sucesso seja "Doctor Who", que está há anos em cartaz e sempre se renova, sem perder público e adquirindo novos. Recentemente a série foi exibida na TV Cultura, mas "Doctor Who" de tanto sucesso além-mar já é clichê. Além dela, outras produções cruzam o Atlântico e merecem destaque, "Sherlock", por exemplo, adapta os contos de Sir Arthur Conan Doyle e nos apresenta seu personagem mais famoso, Sherlock Holmes, atuando em pleno século XXI. Prestes a estrear sua terceira e derradeira temporada, "Sherlock" é uma série curta, são 3 episódios por ano, mas com uma hora e meia cada um, funcionam como três filmes sobre o detetive mais famoso da História. Em comparação a (forçada) versão americana de Sherlock na América, Sherlock UK de tão primorosa vale cada minuto perdido. "Ripper Street" mantém esse padrão ao retratar o período histórico em que a Inglaterra era aterrorizada por Jack, o Estripador. A série começa, na verdade, depois de cinco meses sem um ataque do serial killer, o que coloca a população em estado de alerta a cada novo crime ocorrido. Mathew MacFadyen, o Mr. Darcy de "Orgulho e Preconceito", é um Inspetor que tenta manter a ordem e a paz à sombra do criminoso mais famoso do Reino Unido. Além delas, ainda há "Downtown Abbey", sobre uma aristocracia cambaleante e a ascensão da classe média. Mas, o que explica esse cuidado da TV britânica com suas produções? Talvez a própria história da TV no Reino Unido – que nasceu pública, com o intuito de educar, instruir, informar e cumprir um papel social – tenha feito com que o conteúdo tenha mais importância que a própria audiência. No final das contas, quem lucra é o telespectador, que tem entretenimento de qualidade garantida.

Resenha escrita por Rafael Tavares.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Resenha de Disco: Despretensiosamente, Colbie Caillat Faz Música Pop Sem Ser Descartável.

Não é necessário uma enorme potência vocal ou uma sensualidade exacerbada para se tornar uma cantora reverenciada por todos. Às vezes, o simples torna-se a receita ideal para o sucesso. Colbie Caillat é um exemplo de artista correta, charmosa, radiofônica e nem por isso menos talentosa. Seu terceiro álbum de inéditas, "All of You", se encarrega de mostrar toda a elegância presente em suas canções, a começar por "I Do", primeira e deliciosa música de trabalho que, assim como o clipe, é capaz de encher de alegria o coração mais fechado. As faixas tem uma ligação entre si, o que faz com que muitas vezes soem iguais, mas não chega a comprometer o disco. Considerada uma Jack Johnson de saia, Colbie canta música pop para adultos, com versos inteligentes e harmoniosos e as canções praianas com pitadas de surf music recheiam o álbum. Embora passeie entre músicas intimistas e outras mais ensolaradas, todas as faixas de "All of You" foram feitas para o sucesso radiofônico, mas não de forma descartável, pois a maneira despretensiosa com que Colbie nos apresenta seu trabalho apenas colabora para que possamos enxergar suas qualidades como cantora. O segundo single do disco, "Brighter Than The Sun", é um grande destaque do álbum, assim como "Shadow" e "Before I Let You Go", criando uma trilha sonora perfeita para ver o pôr do sol ou caminhar na praia. Bonita e talentosa, Colbie Caillat nos mostra que, com "All of You", já garantiu seu lugar no mercado musical.

Resenha escrita por André Ciribeli.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Resenha de Filme: "Frankenweenie", Animação de Tim Burton, Faz Referências ao Cinema B com Nostalgia e Criatividade.

Tim Burton é um dos maiores diretores da atualidade, dono de clássicos como "Peixe Grande" e "Edward Mãos de Tesoura". Ao lado da atriz Helena Bonham Carter e do ator Johnny Depp, filmes como "Sweeney Todd" e a regravação de "Alice no País das Maravilhas" imortalizaram o diretor como um grande ícone do cinema. Seus trabalhos sempre tendem para um lado mais sombrio, misterioso, usando do suspense para contar histórias originais e criativas. Em "Frankenweenie", seu último trabalho de animação, ele não deixa de fora essas suas características principais. O filme, em preto e branco, conta a história de Victor Frankenstein, garoto tímido que adora as aulas de ciência e tem o cachorro Sparky como seu melhor amigo. Quando um acidente mata o seu cão, ele, através de um experimento, consegue trazê-lo de volta à vida. Porém, quando sua experiência aparentemente bem sucedida é descoberta, os seus amigos da escola resolvem também ressuscitar outros animais, resultando em uma séries de acontecimentos desastrosos. O filme nos remete ao cinema B de décadas passadas e faz referências a grandes monstros cinematográficos, como Drácula, Frankenstein, Múmia, Homem-Invisível e Lobisomem, fazendo com que muitas vezes tudo soe nostálgico, embora seja um filme dirigido para as crianças de todas as idades. Tim Burton já mostrou seu talento para animação com o consagrado "A Noiva Cadáver", excelente filme ambientado na Inglaterra da Era Vitoriana. Embora com um final um tanto quanto óbvio, "Frankenweenie" concorre ao Oscar de melhor filme de animação e seria justa a sua vitória.

Resenha escrita por André Ciribeli.