Em "A Pele que Habito", Almodóvar abandona os simbolismos característicos de seus filmes. Objetos são apenas objetos, situações realmente acontecem, por mais incrédulas que possam parecer, e se encaixam perfeitamente em um filme de terror "sem sustos ou gritos", como o próprio cineasta espanhol o definiu, baseando-se no livro "Tarantula", do escritor francês Thierry Jonquet. O cirurgião plástico Robert Ledgard (Antonio Banderas), após perder sua esposa em um trágico acidente, decide criar uma pele humana artificial, mais forte e resistente, usando DNA de pessoas e suínos. Desde o início, percebemos que Robert quer recriar sua mulher, usando uma cobaia muito incomum. O início confuso do filme, com cenas alternadas que a princípio não se encaixam, vai tomando um contexto forte e os mistérios vão sendo desvendados de forma coesa, embora a megalomania do cineasta possa ser enxergada nesses momentos cruciais. Se em "Abraços Partidos" Almodóvar abre mão da ação para a história ser contada através de símbolos, apelando muitas vezes para a capacidade dedutiva do espectador, em "A Pele que Habito" ele faz exatamento o contrário. Tudo é explicado minuciosamente, até porque há essa necessidade. Os objetos não são simbólicos, eles são realmente usados. A navalha é usada, os falos são usados e o plano nada convencional do Doutor Robert é executado, lembrando a velha história de Frankenstein. Contando uma história com seu jeito bem peculiar, Almodóvar conseguiu novamente ser genial.
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