sexta-feira, 23 de março de 2012

Resenha de Filme: "Balada do Amor e do Ódio" é Filme Interessante, Mas Para Poucos.

Dirigido por Alex de la Iglesia, o filme espanhol "Balada do Amor e do Ódio", originalmente "Balada Triste de Trompeta" é de difícil digestão. Ambientando-se primeiramente no início da Guerra Civil Espanhola, que colocou o General Franco no poder, é complicado atribuí-lo a determinado gênero, pois tanto vai da comédia de humor negro ao drama, passando pelo terror e suspense. Javier, interpretado por Carlos Areces vê seu pai e demais companheiros de circo serem forçados a participar da guerra, onde pode-se ver todos os tipos de atrocidades. Assim, cresceu primeiro sem a mãe e depois sem o pai, que morreu na sua frente durante a guerra. Mais tarde, já adulto, começa a trabalhar em um circo, desempenhando o papel de Palhaço Triste, aquele que arma as situações para que o outro palhaço soe engraçado, profissão que seu pai e avô seguiam. No circo ele se apaixona pela trapezista Natalia (Carolina Bang), mulher de Sergio (Antonio de la Torre), que interpreta o Palhaço Feliz, homem de índole violenta que quando bêbado é capaz de espancar quem encontre pelo caminho, sendo Natalia sua principal vítima. Tentando ajudar a amada, que se sente dividida entre o amor sereno de Javier e a paixão destrutiva de Sergio (uma comparação clara com a Espanha, separada na época entre fascistas e republicanos), Javier trava com Sergio a partir de então, uma luta de proporções sádicas que beiram o exagero. Exagero esse que se encontra por todo o filme. O ambiente escuro, a maquiagem borrada, a violência, a trilha sonora tensa, tudo colabora para uma estética que parece misturar Tarantino com Almodóvar. O caos criado mostra até onde uma pessoa pode chegar pelo amor ou falta dele. O extremo a que o filme chega pode causar admiração em alguns espectadores, como repulsa em outros, principalmente aos acostumados a filmes "comerciais", sendo um filme para poucos é impossível passar indiferente a ele. Depois de "Balada do Amor e do Ódio", o medo que algumas pessoas tem de palhaços se torna completamente justificável.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Resenha de Disco: Grande Projeto Musical, Sonantes Reúne Céu a Grandes Músicos.

O grupo musical Sonantes é um projeto paralelo composto por Gui Amabis e Rica Amabis, Dengue e Pupillo (músicos da Nação Zumbi), também componentes do 3namassa. Incensada nos Estados Unidos e em alguns países Europeus desde seu primeiro disco homônimo, a cantora Céu assume o vocal da banda. Lançado primeiramente nos EUA pela Six Degrees, o primeiro álbum que leva o nome do grupo chega ao Brasil pelo selo Oi Música e reintera do talento dos músicos e principalmente a versatilidade de Céu. O grupo faz uma mistura de MPB com ritmos regionais, batidas afro e um leve tom de eletrônica. O resultado é um som desconexo, porém único, que soa apenas como Sonantes. Embora Céu tenha uma voz magistral, grande parte do excelente conteúdo presente no disco se deve ao talento único dos músicos. Voando ainda mais longe nas melodias, o grupo adiciona ska e dub, bem como referências dos anos 60 e 70 ao repertório já heterogêneo. O Projeto conta com um grande time de convidados, que incluem Beto Villares, Apollo 9, Fernando Catatau, Lúcio Maia e Siba, que canta a música "Toque de Coito", tema sombrio e introspectivo. A faixa "Frevo de Saudade" conta com pequenas batidas eletrônicas que de forma discreta acaba se tornando o grande destaque do álbum, juntamente com a beleza da letra de "Quilombo Te Espera". Algumas faixas são exclusivamente instrumentais, como "Looks Like To Kill" e "Mambobit". Mesmo na incerteza da continuação do projeto e de novos álbuns, a certeza é que com um grande disco, Sonantes debuta muito bem no mercado fonográfico.

terça-feira, 13 de março de 2012

Novo Disco de Bethânia Ganha Data de Lançamento.

Programado para chegar ao mercado dia 30 de Março pela Biscoito Fino, o novo disco de Maria Bethânia, intitulado "Oásis de Bethânia", conta com participações de grandes nomes da MPB. A começar pelo cantor e compositor Lenine, que divide os vocais com a soberba cantora em "O Velho Francisco", música de Chico Buarque. Composições de Roque Ferreira como "Casablanca", "Fado" e "Barulho" também estão no repertório. Djavan participa da música "Vive", composta por ele. Outra canção a entrar no disco é "Calúnia", imortalizada na voz da grande Dalva de Oliveira e a própria Bethânia assina o texto de abertura de "Carta de Amor". Provavelmente mais um grande lançamento dessa inigualável artista.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Resenha de Disco: União de Músicos dá Vida a Passo Torto, em Meio a Crônicas e Sentimentos.

Encabeçado por grandes nomes do cenário musical brasileiro, oriundos de São Paulo, a saber, Rômulo Fróes, Rodrigo Campos, Kiko Dinucci e Marcelo Cabral, se juntaram para formar a super banda Passo Torto, projeto já bem sucedido nessa nova safra da música nacional, que vai do samba em suas várias formas ao rock leve e introspectivo. Para isso, a Cidade Grande, no caso, São Paulo, serve de cenário para músicas e crônicas do cotidiano na metrópole. Rômulo Fróes, já conceituado cantor do cenário indie cultural Brasileiro, continua apresentando um excelente trabalho que já é aclamado quanto cantor solo e consegue ultrapassar a linha do excepcional ao juntar sua marcante voz com o violão de Kiko Dinucci, o cavaquinho de Rodrigo Campos e o baixo de Marcelo Cabral, todos muito bem sucedidos em carreiras individuais. As críticas à cidade cinza são pontuadas de forma competente com letras muito bem amarradas em um instrumental percurssivo. Se em "Da Vila Guilherme ao Imirim" a história se desenrola dentro de um ônibus, "Faria Lima Pra Cá" troca o meio de condução pelo metrô, enquanto o protagonista desenrola seus problemas e suas visões da cidade. O clima introspectivo se encontra presente em quase todo o disco, que ainda encontra lugar para o romantismo e as carências sentimentais em "Por Causa Dela" e conotações sexuais em "Sem Título e Sem Amor", onde não há amor, restando apenas libido e desejos. As onze faixas do disco não destoam entre si, ao contrário, encontram-se muito bem amarradas em um contexto tão frio quanto se encontrar sozinho na cidade grande. Mas, o álbum consegue a faceta de não soar depressivo, apenas realista. É uma obra de letras, de composições, que deve ser ouvida várias vezes, ser pensada, ser tragada e uma conclusão às vezes não será possível. Passo Torto é uma banda de crônicas, onde os sentimentos e as visões sociais são trazidos a nós de forma fantástica.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Resenha de Disco: Rhaissa Bittar Evoca o Lúdico Para Cantar o Cotidiano.

Em seu disco de estreia, Voilá, Rhaissa Bittar não decepciona. Pelo contrário, consegue soar leve, "fofa" e cumpre a função de dar um frescor à Nova MPB. O álbum é uma mistura de tango, forró, e claro, samba. Sua voz fina, que as vezes parece a de uma adolescente, foge do convencional e a linguagem corriqueira, informal, consegue garantir um certo ar de novidade, de originalidade à música brasileira. Rhaissa canta o cotidiano, os pequenos momentos do dia a dia, os afazeres que passam por despercebidos e os momentos que de tão repetitivos chegam a ser marcantes. A deliciosa "Chilique Chique", por exemplo, narra a visita a uma manicure desastrada, repleta de reclamações e situações exageradamente dramáticas, resultando em uma música inventiva e engraçada. Em "Pif Paf", que nos remete ao som da gafieira, Rhaissa compara seu relacionamento amoroso com o jogo homônimo de cartas. Tudo soa divertido, com uma ingenuidade única, sem malícia ou conotações maldosas. Competente, ela começou a cantar desde criança e já estudou em Taiwan para aprimorar sua voz, até se sentir segura para gravar Voilá, recebendo o apoio da Panela Produtora ao lado de músicos como Maurício Pereira, Daniel Szafran e Ricardo Herz. Ela ainda assina a composição de três músicas presentes no disco, onde mistura a música brasileira com a chinesa e jazz, onde busca inspiração. "Pombo Correto", "Entre Outras Coisas" e "Boneca de Palha" são criações divertidas, para serem ouvidas despretensiosamente, embalando uma tarde de sol ou um bate-papo com amigos. Essa linguagem simples, evocando o lúdico, soa como uma brincadeira , onde Rhaissa nos conduz com perfeita harmonia em um jogo simples e divertido.