É notável a falta de qualidade
e maturidade dos filmes atuais feitos sobre (e para) adolescentes: High
School Musical é o maior exemplo de como o público jovem tem sido cada
vez mais infantilizado pelo cinema. Ou pior: como cada vez mais crianças
são transformadas em adolescentes fora da hora, mas isso é assunto para
outra resenha. O que quero dizer é que Hollywood mostrou, em sua
maioria, improdutiva para filmes jovens que fossem maduros e
inteligentes. A sorte é que Gus Van Sant,
um dos maiores cineastas da cena independente americana, carrega -
firme e forte - o duro fardo de ser um dos poucos (quiçá o único) nos Estados Unidos que consegue articular, em um mesmo filme, maturidade e inteligência em histórias adolescentes.
Para quem conhece pouco, Gus é o diretor de dois clássicos do cinema
jovem: "Paranoid Park" e "Elefante", além de ser a mente por trás do
aclamadíssimo "Milk". Em "Inquietos",
o cineasta mostra mais uma vez que há vida inteligente na adolescência,
ao contar a história de um casal jovem sem imbecilizá-los. No filme, Henry Hooper
interpreta Enoch Bae, um jovem que perdeu a fé na vida ao ficar órfão e
passa a viver isolado, com seu amigo fantasma Hiroshi, um piloto
kamikaze da Segunda Guerra, tendo como hábito invadir funerais de
desconhecidos. Em um desses funerais, ele conhece Annabel (Mia Wasikowska, também em "Alice no País das Maravilhas" de Tim Burton),
vítima de um câncer em estágio terminal. Daí surge uma amizade que logo
se transforma em namoro, e Gus Van Sant poderia facilmente transformar
essa história em um dramalhão (aliás, qualquer diretor menos experiente e
menos talentoso o faria), mas pelo contrário, apresenta um resultado
coeso e que não peca pelo excesso (e nem pela falta) de drama. É melhor
que "Elefante", seu clássico? Não, mas dá dignidade a personagens
adolescentes que, em outros filmes, sofrem pela falta de inteligência,
maturidade e pelo vazio de suas histórias.
Resenha escrita por Rafael Tavares.
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