sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Resenha de Filme: O Realismo de "Contágio" Funciona e Suscita Importantes Discussões.

Contágio, um thriller psicológico dirigido por Steven Soderbergh (da trilogia Onze Homes e um Segredo) traz a tona temas comuns a ficção científica e teorias de conspiração. Nas mãos de outro diretor, ele poderia ter se transformado em um filme B (filme hollywoodiano de terror ou suspense com baixo orçamento e qualidade duvidável); mas Soderbergh dá a ele um tom realista e sério, levantando questões importantes para toda a sociedade, embora ela não esteja disposta ou verdadeiramente atenta à elas. Contágio começa com um pequeno grupo de pessoas, aparentemente sem conexão entre si, que desenvolvem gradativamente sintomas parecidos e que subitamente leva todos a morte. A partir daí, mais e mais pessoas são contaminadas e essa (possível) epidemia assusta as autoridades e põe em alerta um jovem repórter (interpretado por Jude Law), que ultrapassa os limites da conduta jornalística em sua investigação sobre a doença. Nesse contexto, Sorderbergh opta por mostrar a situação através de diferentes olhares, seja através dos médicos e autoridades de pequeno e grande escalão, por vítimas da doença e também por seus parentes, dando ao espectador as visões macro e micro da situação. Ao não optar por um ponto de vista, o diretor não toma partido e joga essa dura responsabilidade para o espectador, que é obrigado a questionar-se durante toda a projeção com questões que até então não paramos para analisar e que, de certa forma, precisam ser pensadas. “O que fazer caso uma epidemia seja identificada, contar abertamente à população ou manter sigilo em nome da ordem?”; “Em um caso como esse, pode uma autoridade privilegiar sua família ou deixa-la na mesma situação que outros cidadãos?”, “Se uma cura for encontrada, quem (e qual país) receberá primeiro?”. Essas e outras questões são propostas e muito se deve ao grande (e talentosíssimo) elenco escolhido por Soderbergh para dar vida a esses personagens. Sem deixar respostas, Contágio nos coloca de frente com uma realidade que está aí fora e que, voluntariamente, não nos damos conta. Os vírus estão aí. E para que nossa existência seja colocada em cheque basta que, aleatoriamente, um vírus encontre um hospedeiro e sofra uma mutação que seja letal a nossa espécie. E como agiremos? Preservaremos nosso conceito de sociedade ordenada ou partiremos para barbárie, para o “cada um por si”? É algo a se pensar e é essa a batata quente que Contágio deixa em nossos braços.

Resenha escrita por Rafael Tavares.

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