Zélia Duncan está naquela lista seleta de artistas
constantes, sem aqueles altos e baixos na carreira tão comuns (e aceitáveis).
Seus discos comungam entre si de uma qualidade inquestionável e invariável.
Além disso, Zélia é uma grande compositora e intérprete.
Seu mais recente trabalho, Tudo Esclarecido,
lançado já no fechar de cortinas de 2012, corrobora o parágrafo acima: é um
disco coeso e mostra a capacidade de Zélia de debruçar-se sobre a obra de um
autor sem soar como uma simples regravação. O álbum é todo feito com canções de
Itamar Assumpção, compositor paulistano de grande importância no cenário
nacional.
Itamar Assumpção é um dos grandes nomes da cena que
ficou conhecida como Vanguarda Paulista na década de 70-80, vanguarda que hoje
é referência para importantes nomes da Nova MPB (também paulista, em sua
maioria). A vanguarda da década de 70 lutou contra as grandes gravadoras, pela
dificuldade em se gravar e pela falta de liberdade criativa, levando esses
músicos a abrirem suas próprias empresas e lançando seus discos de forma
independente. Por causa disso, o maldito da MPB (como Assumpção era conhecido)
foi taxado de difícil pela crítica e mídia. Tanto que é dele a célebre frase
“Eu sou um artista popular!”, ao ser perguntado sobre o assunto.
Apesar disso, seu legado e importância nunca foram
esquecidos e Itamar foi gravado por grandes nomes, como Cássia Eller, Jane
Duboc, Ney Matogrosso, Zizi Possi e, claro, Zélia. Aliás, não é de hoje que
Duncan tem uma relação com o catálogo de Assumpção: ela já interpretara Código
de Acesso, Vi, Não Vivi, entre outras.
Talvez por essa proximidade com a obra de Itamar Tudo
Esclarecido seja um disco de intérprete sem parecer de intérprete: Zélia
entende todo o conjunto e se coloca à disposição dele de forma tão bela a ponto
de parecer que, na verdade, as canções são de sua autoria.
Destaque para Mal Menor, Tua Boca e Quem Mandou,
prova de que Itamar não é nem de longe um artista difícil e que Zélia é
completa. Além disso, é ótima a parceria (tão improvável) entre Martinho da
Vila e Zélia em É de Estarrecer.
Em um país
conhecido pela força de cantoras intérpretes, Zélia - a compositora - mostra que também faz jus à essa regra nacional.
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