segunda-feira, 18 de março de 2013

Resenha de Disco: Tudo Esclarecido, (mais) um disco irretocável de Zélia Duncan


Zélia Duncan está naquela lista seleta de artistas constantes, sem aqueles altos e baixos na carreira tão comuns (e aceitáveis). Seus discos comungam entre si de uma qualidade inquestionável e invariável. Além disso, Zélia é uma grande compositora e intérprete.
Seu mais recente trabalho, Tudo Esclarecido, lançado já no fechar de cortinas de 2012, corrobora o parágrafo acima: é um disco coeso e mostra a capacidade de Zélia de debruçar-se sobre a obra de um autor sem soar como uma simples regravação. O álbum é todo feito com canções de Itamar Assumpção, compositor paulistano de grande importância no cenário nacional.
Itamar Assumpção é um dos grandes nomes da cena que ficou conhecida como Vanguarda Paulista na década de 70-80, vanguarda que hoje é referência para importantes nomes da Nova MPB (também paulista, em sua maioria). A vanguarda da década de 70 lutou contra as grandes gravadoras, pela dificuldade em se gravar e pela falta de liberdade criativa, levando esses músicos a abrirem suas próprias empresas e lançando seus discos de forma independente. Por causa disso, o maldito da MPB (como Assumpção era conhecido) foi taxado de difícil pela crítica e mídia. Tanto que é dele a célebre frase “Eu sou um artista popular!”, ao ser perguntado sobre o assunto.
Apesar disso, seu legado e importância nunca foram esquecidos e Itamar foi gravado por grandes nomes, como Cássia Eller, Jane Duboc, Ney Matogrosso, Zizi Possi e, claro, Zélia. Aliás, não é de hoje que Duncan tem uma relação com o catálogo de Assumpção: ela já interpretara Código de Acesso, Vi, Não Vivi, entre outras.
Talvez por essa proximidade com a obra de Itamar Tudo Esclarecido seja um disco de intérprete sem parecer de intérprete: Zélia entende todo o conjunto e se coloca à disposição dele de forma tão bela a ponto de parecer que, na verdade, as canções são de sua autoria.
Destaque para Mal Menor, Tua Boca e Quem Mandou, prova de que Itamar não é nem de longe um artista difícil e que Zélia é completa. Além disso, é ótima a parceria (tão improvável) entre Martinho da Vila e Zélia em É de Estarrecer.
 Em um país conhecido pela força de cantoras intérpretes, Zélia - a compositora -  mostra que também faz jus à essa regra nacional. 

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