Isabel Allende, Gabriel Garcia Márquez, Roberto
Bolaño. A literatura latino-americana de língua espanhola é muito rica e tem,
em geral, um universo comum onde situações fantásticas se misturam a
acontecimentos cotidianos.
Engrossando esse caldo está Hernán Rivera Letelier
que, conterrâneo de Allende e Bolaño, é considerado um dos melhores autores
chilenos em atividade. Seu romance A
Arte da Ressurreição levou para casa o prestigiado Prêmio Alfaguara, da
Espanha, publicado pela divisão do prêmio no Brasil pela Editora Objetiva em
2012.
Na história, o autor (re)imagina a vida de um homem
real – o andarilho Domingo Zárate Vega – que durante as primeiras décadas do
Século XX percorreu o Chile afirmando ser o enviado de Deus, o sucessor de
Jesus Cristo, recebendo a alcunha de Cristo de Elqui, referindo-se ao vilarejo
onde nasceu. A narrativa começa quando o Cristo de Elqui parte rumo a um
pequeno vilarejo no meio do maior deserto do mundo, o Atacama, a fim de
encontrar Magalena Mercado, prostituta considerada santa e que, para ele,
Cristo de Elqui, poderia ser sua Maria Madalena.
Ao retratar o período através de uma história real,
Letelier nos mostra um panorama da vida no deserto mais árido do mundo. Embora
não seja um tratado sobre o Chile, sua população e seus costumes, o livro
consegue divertir na maneira como a história se conta, principalmente pelo
humor não intencional do Messias atacamenho.
Ao terminar a rápida leitura de A Arte da
Ressurreição – rápida pois o livro é pequeno – ficamos marcados com a deliciosa
sensação de que acabamos de relembrar a história de algum conhecido, que viveu
muito próximo de nós: quem não conhece alguém que consideramos um tanto louco,
mas que no fundo gostamos? Terminamos o livro guardando um carinho enorme pelo
Cristo de Elqui, pouco importante se era louco ou, realmente, o Messias. E isso
graças ao humor despretensioso e a maneira delicada como Letelier constrói seu
personagem.
Não tem o peso de Cem Anos de Solidão e nem gostaria
de ser. A Arte da Ressurreição é um livro despretensioso e essa é sua grande
virtude.