terça-feira, 25 de junho de 2013

Resenha de Livro: Arte da Ressurreição oferece leitura deliciosa e descompromissada

Isabel Allende, Gabriel Garcia Márquez, Roberto Bolaño. A literatura latino-americana de língua espanhola é muito rica e tem, em geral, um universo comum onde situações fantásticas se misturam a acontecimentos cotidianos.
Engrossando esse caldo está Hernán Rivera Letelier que, conterrâneo de Allende e Bolaño, é considerado um dos melhores autores chilenos em atividade.  Seu romance A Arte da Ressurreição levou para casa o prestigiado Prêmio Alfaguara, da Espanha, publicado pela divisão do prêmio no Brasil pela Editora Objetiva em 2012.
Na história, o autor (re)imagina a vida de um homem real – o andarilho Domingo Zárate Vega – que durante as primeiras décadas do Século XX percorreu o Chile afirmando ser o enviado de Deus, o sucessor de Jesus Cristo, recebendo a alcunha de Cristo de Elqui, referindo-se ao vilarejo onde nasceu. A narrativa começa quando o Cristo de Elqui parte rumo a um pequeno vilarejo no meio do maior deserto do mundo, o Atacama, a fim de encontrar Magalena Mercado, prostituta considerada santa e que, para ele, Cristo de Elqui, poderia ser sua Maria Madalena.
Ao retratar o período através de uma história real, Letelier nos mostra um panorama da vida no deserto mais árido do mundo. Embora não seja um tratado sobre o Chile, sua população e seus costumes, o livro consegue divertir na maneira como a história se conta, principalmente pelo humor não intencional do Messias atacamenho.
Ao terminar a rápida leitura de A Arte da Ressurreição – rápida pois o livro é pequeno – ficamos marcados com a deliciosa sensação de que acabamos de relembrar a história de algum conhecido, que viveu muito próximo de nós: quem não conhece alguém que consideramos um tanto louco, mas que no fundo gostamos? Terminamos o livro guardando um carinho enorme pelo Cristo de Elqui, pouco importante se era louco ou, realmente, o Messias. E isso graças ao humor despretensioso e a maneira delicada como Letelier constrói seu personagem.

Não tem o peso de Cem Anos de Solidão e nem gostaria de ser. A Arte da Ressurreição é um livro despretensioso e essa é sua grande virtude.

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